Pesquisadores da Rede Sismográfica Brasileira esclarecem informações sobre o tremor de terra em Maceió (AL)
Mapa de localização epicentral. Em vermelho, a indicação do epicentro
Registrado pelas estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), o tremor de terra de magnitude 2.4 ocorrido às 14h30 do último sábado (3) em Maceió, Alagoas, assustou a população do município. Moradores dos bairros de Serraria, Pinheiro, Cruz das Almas, Farol e Jatiúca relataram ter sentido o abalo sísmico.
“Um tremor com magnitude pequena como este pode ser sentido levemente até 5 ou 10 km de distância, em média. Geralmente não causam nenhum dano, apenas susto quando as pessoas não estão acostumadas a tremores”, destaca o Prof. do Centro de Sismologia da USP Marcelo Assumpção .
Sismos do Brasil de 1720 a junho de 2017
Os tremores mais fortes já registrados no estado de Alagoas não ultrapassaram magnitudes 3.4. No Nordeste, Caruaru (PE) é o município relativamente mais “sísmico” e próximo de Maceió, cujos tremores já atingiram magnitude até 3.8 ocorridos em 1967, 1984 e 2002, sem danos relevantes. Os maiores da região Nordeste do Brasil ocorreram em 1980 no Ceará (magnitude 5.2) e em João Câmara, Rio Grande do Norte, em 1986 (Magnitude 5.1). Nestes dois casos, houve danos sérios como rachaduras e trincas em casas. Alagoas, portanto, é um estado com baixa atividade sísmica, mesmo para padrões brasileiros.
Ainda não se sabe se o evento sísmico em Maceió teve alguma relação com as fortes chuvas da véspera ou se foi apenas uma coincidência. Em outros lugares do mundo e mesmo do Brasil, os tremores quase nunca têm relação direta com chuvas. Embora muito raros, há casos em que se verifica pequeno aumento da sismicidade em épocas de chuva.
Os relatos de internautas recebidos pela plataforma “Sentiu Aí?” do Centro de Sismologia da USP apontam intensidade leve a moderada do abalo, que obteve no máximo o grau V na Escala de Mercalli, onde é perceptível a vibração em cama, porta, janelas, pequenos objetos etc.
Ainda conforme o Prof. Assumpção, os relatos de rachaduras em prédios e buracos no asfalto, veiculados pela mídia e nas redes sociais, a priori parecem incompatíveis com a pequena magnitude do tremor.
Registro do evento na estação NBCA
As estações sismográficas mais próximas de Maceió estão localizadas entre 70 e 280km de distância. Porém, o evento também foi detectado por sismógrafos mais distantes operados pelo Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), parceiro da RSBR, a uma distância aproximada de 650km.
Tremores pequenos não são incomuns no Brasil e são causados por forças geológicas (ou "pressões" geológicas) presentes na crosta terrestre que, ocasionalmente, podem provocar um pequeno deslocamento em alguma falha ou fratura geológica no meio da crosta a poucos km de profundidade. As vibrações sentidas pelas pessoas (e registradas pelas estações sismográficas) são causadas por este deslocamento repentino na fratura. Mesmo estando longe das bordas de placas tectônicas, onde grandes terremotos ocorrem com muita frequência, o Brasil não está totalmente livre de tremores causados por pequenas falhas e fraturas dentro da placa Sul-Americana.
Os sismos não são previsíveis. Também não há como saber se a atividade sísmica continuará com outros abalos, ainda que menores ou maiores, ou se não ocorrerá mais nada por muitos anos. A chance de tremores maiores com impacto nas construções é extremamente pequena, a ponto de não ser necessária nenhuma precaução especial, mas essa chance não é nula.
Com informações do Centro de Sismologia da USP e do Laboratório Sismológico da UFRN,
instituições integrantes da Rede Sismográfica Brasileira.